Textos de Alberto Moreira Ferreira

Poemas do Móvel, Poesia do Outro Dia, Textos de Alberto Moreira Ferreira
Nos últimos dias ouves 
O que não ouves: deus
Te valha deus te tenha;
E tu não, nem precisas;
E em paz pensas: eu não           
          de nada
Andei à procura da poesia,
Fui à rua, vi cavalos de pau,
Virei os olhos, pensei que,
Pudesse estar nas giestas,
No final do ceco onde as ténias 
convergem,
Nos pensos higiénicos no lixo,
Na desentrouxa do coração,
No geoso do verão depois deste 
acabar,
No balde dos papéis do engenheiro 
pescador,
No impudor de deus e na mulher-
a-dias,
Procurei em casa, procurei em todo
o lado.
Hoje estou preocupado com a minha pele
Vou ao médico, a poesia não me interessa,
Interessa-me uma boa pessoa, é o que me
Interessa, uma boa pessoa 
A delicadeza que não é virtude no mundo das virtudes é a virtude que mais move. O que sei é pouco. A beleza de uma rosa está na vida, no vento na inquietude, nos momentos de corpo e alma, no leve no longe no perto no que não existe naquilo que foi que vem no próximo no íntimo 
no presente 
Ter uma rosa é durar
        Mais um dia
Gosto de pensar 
Que a poesia 
Caminha comigo
Enquanto durmo
Sentado embalando a
Pedra do mar
Negro sem trunfo na manga a sonhar
Que há lugares ainda
Onde ir
Toda a gente neste bairro acredita na doçura dos anjos, num deus à justa, há aves cujo tamanho me rouba o brilho dos olhos, e não são muito diferentes de mim, são árvores de mãos vazias, covardes armados e choram por mais e eu não acredito no que esquece, eu só quis ser lume em vida 
Tenho aranhas na cabeça 
E por sinal numa altura em que me sinto
Um intruso, mais uma pedra a desviver
No quintal avernal dos mortos obcecados
Pela vida a que este que escuto do qual 
A beleza primaveril se afastou chama
De morte vendo sentindo entardecer
Pergulado cada vez mais vulnerável 
Tecendo uma 
Sardosa real
Rosa sublime, branca muito bela
No pensamento que, é por vezes
Aquela ilusão que cura e salva, e
As moscas não são minhas Maria
A vida é mais alta que o Burj Khalifa e pesa mais de seiscentas mil toneladas, eu desnudo-a traduzindo-a num leve vapor de água. A poesia é como um grama de ósmio, um metal denso e raro da terra. Bem aventurado o poema triste feliz afortunado 
Na roda da laje do brinco
Eis... ei-lo pendular diante
A gataria alucinada de ar
Na lembrança daquilo
Que, viveu, bem como
Do seu cheiro rasgado de medo
Desenhado de coragem 
Ele um triste ele um feliz
Até que a noite aclara e de dois
Se faz um 
Marujo, o marinheiro da linha cinco
A moral da ostra criada a partir de uma reação defensiva é igual à do porco que lhe comeu a pérola
Não sei se volte ou se a vida me fará voltar. Desde o primeiro escrito que penso para mim: eu não quero ser escritor, e desde então não parei de escrever, mas eu não sou nem quero ser escritor. É como se tivesse um amor e um trauma pela despedida e despeço-me da escrita muitas vezes, e volto, e volto para descobrir a natureza interior. Na verdade, confesso que não consigo ver o que escrevo como um produto comercial, é sangue do meu sangue, vida da minha alma azul e vermelha, é o resultado do caminho que, em parte escolhi, e que me calhou em destino, momentos que me vão; foram e continuam libertando lapidando fechando abrindo fazendo pensar exercitando sentindo, o voluntário espiritual, que me tem apontado por definição para uma educação de valores do humanismo, é um ato solitário que me tem trazido, solidão, e o curioso é que o tenho feito para combater essa mesma, solidão, escrevendo para mim, percorrendo as mais diversas etapas abordando matérias da existência escoando a figura do meu ser, e não quero ir ao mundo, mas vou, vou e não vou, sou tímido e criei este espaço onde partilho o porto que chega naturalmente sem o procurar. Se fosse escritor tinha vergonha. Hoje deixo a poesia esperando não estar a enganar-me, logo rumarei a outro porto e não sei se amanhã
Aqui o céu da boca, o espaço visível acima do horizonte, não tem automóveis, tem somente estrelas e essas não saem dos lugares, encarceradas, numa imobilidade, ébria, nem para tomar um café
Queria brilhar
Ser o perfume 
Longevo sempre novo 
No seu
Coração 

Viveu para que o integrasses
Na medida e não 
Para venerar um cemitério
De folhas caídas

Às vezes penso que o pranto 
O salvou e durmo como quem
Quer acordar 
Esquecendo-me de mim

Hoje a primavera tem um detalhe diferente 
A luz é escura e, é como uma semente 
E eu não sou tão frio como as sombras
Amantes que perderam 
                                            ou nunca tiveram 
                   Amor
Gosto desta tempestade Hermínia,
Chegou com o temperamento de quem 
Foi expulsa do paraíso e entrou
De rompante, não sei se, por homenagem 
À nossa querida e saudosa Hermínia Silva 
Se simplesmente por ser mulher,
Traz extensivos ventos de prata,
E jubilosa chove, chove rios atmosféricos
Como quem sofre, é como a lua 
Cheia, agita e excita-me 
A sua sede de vida
Porque me chamas tu lobo

- Fitas a bicicleta que vem
Pelo ar charmosa a pedalar
Tens esmeraldas nos olhos
Amas a vida a loucura

Evidente, a lua é o condimento

- E distância, é incompreensível como
Morrem os lobos que amam como tu
De alma inteira com brancas precisas
No leito do amor

Deixa vir a bicicleta a harmonia 
Ou a pedrinha
Como vês, eu não sou um lobo

- Nossa senhora das candeias led...
Deus te acuda lobo bom

Certo dia entraste na porta errada
Percorreste o labirinto e, saíste 
Conseguiste sair mas o mundo
A vida tinha acabado. Meu amor
Não morremos do músculo do órgão 
A alma é que desaparece da mão
               Do mapa
Aqui num lugar longe de o vinho
Apetece-me acontecer fazer um
Puro fruto um poema feliz para 
Dois ventrículos sem pranto como
Fazem o sol a lua as fontes na saudade
Subamos às estrelas aos lemes
E fiquemos pelo chão por tudo
          Por amor
                      Meu amor
Todo vento desfaz a mochila
Todo água gira no outono 
Todo fogo aparece e desaparece 
No inverno todo inacabado 
Trapézio meu amor é primavera
Fuga e morte no final do verão 
Perto do fim inefável alegria
A paixão pelo ar
Rosa o verdadeiro
Amor Brindemos
à tarde à noite à aurora à estação
Ao sideral poético da vida 
Houvesse um medicamento 
que me loucurasse, 
porque eu gosto de ver luzes, 
pontes muitas, mas enfim
Foste entrando e ficaste instalada
Vivamente cá dentro, e eu, in feliz
Seria triste adormecido nas areias
Do deserto: montava corpos azuis
Da dimensão das estrelas que nos
Cegam depois dos voos para nada 

Quando o amor é o amor ainda que
Por correspondência fortalecemos
Asas que sumiriam como o tempo
Ante a incompletude do ser não ser
E ainda que o tempo que passo contigo
Seja imaginado tu és e és e és 
Com efeito, tu és muito bonita

Tu sabes a laranja e o teu suor, um perfume
Lilás, fica comigo ao percorrer o corpo, belo
A suavidade da tua pele, e durante o bailado
Abrem-se e fecham-se estradas, e este ardil
Sedento do desejo repete-te vezes sem conta
O amor é o amor. E tu de fato és e és e és 
Muito bonita, a rosa, imaterial, exemplar
Não gosto da rusticidade do bastonário da ordem dos poetas vaidosos e gosto do pão saloio molhado no azeite virgem extra com e sem regras.
Tivesse gatos e odiava 
O pêlo no sofá 
Tivesse um ou mais cães 
O cheiro a porcaria 

É fácil odiar e é fácil 
Amar a heroína das curvas
O mais fácil é amar 
A morte, o prazer de um
Chouriço picante, este é 

Como o coador pendurado
No quadro, no quadro 
Preto da cozinha. O que é 
Que fiz eu da minha vida!
Tenho andado a viver a aprender 

Que há búzias do mar
E já é tarde
E nunca é tarde
Mesmo quando 
Já é tarde
Para amar
As facas não entraram logo
E não era a dureza do aço que feria
Era o movimento que tardava em chegar ao fim
As facas iam entrando lentamente 
A dor incompreensível não era física 
Mas a compreensão do cruel silêncio inalcançável 
As facas entraram todas e assim que saíram
As cores haviam desaparecido
Era negro por todo o lado
Pela luminosidade que me empurra substituía os ossos deste gordo tropeço solitário Le Cube Diamant pela presença física do beijinho doce do mar infatigável com seus seios espaçados e cabelo infinito. É que, nem as lâmpadas acesas aliviam o cansaço da escuridão.
Sou sempre eu outro sempre insatisfeito irritado com o lugar-comum com menos mais possuidor. Os homens são todos uns maricas.
À noite mato-me de manhã quero viver.
Levanto-me todos os dias como se alguém quisesse saber.
Já fui
Um caminho paladino
Um menino
Já tive uma alma
Vermelha e a noite inteira
Já tive luz água
Fui um lírio dourado
Não importa se ninguém
Viu ouviu
Fui como um vasto
Como uma rosa agraciada
Perene decíduo
E hoje a lua não vem
Sou agora a mais pálida avenida
Onde permanece o que foi mais
Este um corpo atropelado
Sem dados da conta gold
Enfado pela condição
Uma assombração
Na minha modesta insanidade
Em desvario E no uso da razão 
Redondo e quente tão... Tão 
Quente quanto o azul da minha morte 
          Na rua santinha
Diria: Se a Poesia existisse, tudo 
Mudava e seria diferente, ou nada;
Aquela lesma lá naquela estrada...
Por vezes penso que me perdi porque me achei, outras que porque me acho continuo perdido, e penso às vezes que achar e perder e ganhar e pensar faz parte do caminho
Apetece-me casar outra vez, chega de protocolos e papéis vitória. A vida é uma divindade, sexy, muito sexy, de muito bom gosto, tem curvas e é, apaixonadamente, excitantemente perigosa para felicidade de um lírio, do-brejo verde brilhante como este, fervoso de felicidades, a vida é a prioridade 
de uma lâmpada aquecendo num clima de liberdade, simples complexa, maravilhosamente louca, é como um sonho, o sonho mágico absoluto vivo do poema, violeta, sem palavras, rosa medicinal, interdependente, faculdade
- E viva la vida, la vida tiene otro sabor, aclama al diestro con fervor, la belleza del amor
Arder pelo teu corpo macio
No cavalo baloiço em fogo 
Melado com o teu aroma
Único em ponto de rebuçado
Como o vampiro stream
Na boca em chamas gémeas 
Esquecendo a sepultura 
Das nove horas da manhã 
Da bússola da lage sombria
Chorando à beira da noite
Tal a vide deitada no lume
Como as pedras que ardem
Na penosa escrava do pulso
Pela comunhão, por amor!
Por erva nos lugares vazios
As Macieiras brilham e a rotina
É a solidão que vejo no espelho
O veneno é sempre o mesmo
Na casa dos barcos o cabelo
Cria piolhos numa cadeira
Os degraus são como cães 
Já as oliveiras não caçam 
Acordam a poesia a galope 
O barqueiro adormece-nos
Como a neve da fornalha 
Se não for esta tarde depois
À noite as ovelhas são luzes
E apagam quando a manhã 
Mas as oliveiras não 
E que fazer agora que me içaste a bandeira
Podia ser folha de videira nas correntes quentes do mediterrâneo. Daria à costa fruto desabotoado de espinhos submerso no desejo dos peixes de chegarem a terra para se tornarem pétalas de íris em papel de cor. E seria o ribeiro que levaria os sonhos das aves de regresso ao interior das veias acariciar a pele humedecida do orvalho marítimo herdado dos rituais do amor em plena clareira primaveril. Seria o vento sul da praia-mar seduzindo a graça dos ares que ofertaria às estrelas vestidas de azul despidas do céu para voltarmos a sorrir
Tu corrente de ar diáfano
Princípio na palavra sol até ao fim 
Em órbita como a lua crescente
E fina de brancura com todos 
Os seus cadáveres 

Tu vento suave acontecendo 
Seduzindo o alento em movimento 
Escarpas montanhosas, elos
Já mais pesado como a vida
Tu, e todas as pedras 
E todos os dias - alecrim 
Deste mar
O arco íris
Queria eu ver
O agnóstico, este
Noutro dia
Nunca mais consigo tirar a cola
Das ventosas dos eletrodos 
Precordiais que ficaram na pele
Nunca mais são horas
Eu não sei ler na medida
Eu leio na medida
Eu não sou e nunca fui
Propriamente um doce belga
Também nunca fiz aparecer um macaco
Também nunca fecundei um cão 
Eu quero sair de cada nada
E estou farto, incluindo Perséfone sequestrada
E não me afianço aos porcos
Deixa-me 
Eu não quero ser 
Eu quero ser
Não me deixes 
Deixa-me 
Eu quero ir-me embora 
Eu quero morrer, não 
Eu não quero morrer 
Vi até onde - Mares cor de fumo
De desfocar acender e apagar
E sombras irromperem nos canais
Temerários heróis sentados em órbitas 
O vestido à medida oxidando à medida
Como o eu extensão de outro
Onde o ar do chão passado ainda toca
E um frio de sepultar embrulha
Nas ilhas chove e faz sol e o tempo muda conforme a estação do ano e a extremidade do braço a partir do pulso 
No ar a ausência de luz brilha e no chão um fio de pulso definha
Há formas geométricas empurrando tons com a parte exterior das cavidades abdominais 
Tal a escuridão por vezes existente dentro de nós
De mim, deste velho refletor vermelho 
No sangue em pé na sombra sentado deitado jamais 
Velho, peixe preso nas redes comuns do tempo
Sem esperar esperando sem
Nada a cobrar naturalmente 
Dentro e fora de mim sem nenhum dedo para te meter na boca
(Passato il pericolo gabbato il santo)
Guardador despidor independente-
mente
Como a neve depauperando o farto
Exaurindo o obi
A suster-se
À noite encho a lua mingo
A lua aumento a lua à noite
Procuro a lua como quem
Procura o queijo para não morrer

Olho para o céu e exijo sempre 
Mais e mais da minha sombra
À noite quero voltar à infância 
À magia desse lugar sem noite

À noite procuro a lua
Se o mar fosse o bar e a noite clara
Como uma lua pronta para morrer 
A minha rua não fosse um abismo 
Pela cor dos meus olhos de água 
E, eu, pudesse nadar o dia inteiro 
Ouvindo o que é raro, um fio de ar
Acima de uma lição de vida onde
Começa a extremidade da lâmina 
Imaleável, do outro lado, de costas
Para as varas que se erguem à hora
... Esta manhã 
Fiz um corte desgastante a fazer a barba
Sim, é verdade, eu sou o próprio, marciano, de sua natureza triste
E sou aquele animado, alegre contente
É natural
Tenho esta idade e acordo a sonhar
E à noite a condição traz-me uma dor útil 
São os demónios 
Os demónios são seres como eu mas são planos da terra
Eu tenho montanhas e uma perspetiva diferente de Marte 
Os demónios nos seus propósitos de aliviar dão de comer aos porcos no espeto 
Os cães que encontro não distinguem a obstetriz do aborto
Aprofundo o vinho
E isto não é conversa, sou eu à janela
Remontando o indivíduo da sociedade
Eu mereço tudo como esses caçadores 
E sei que há outra verdade antes de mais a caminho
Para mim existia só manhã e noite
Paixão e morte, e descobri a tarde
Que, descobre todas as fronteiras,
E cada centelha que se desprende
Prende, é um mistério, e eu sou já
Trufa a leste da obsessão pela luz, 
Procuro somente águas de açúcar,
As caldas da rainha, eu não sou de
Outro mundo não não sou um anjo
Uma ovelha no escuro pedindo a deus
Sou tantas vezes o continente que se
Confunde com uma ilha com lágrimas 
             Nos olhos
O fruto amadurece quando a nós se compagina 
E o verme espera, ele é o alvo e nós a alquimia 
Na casa do poema o fogo a pedra o escopro e a talha
Há uma tarde em que te afastas
Um corpo que já não reconheces
Um lugar deliquescente - Ai que
Parece fim de dia - Ai que a vida
A morte quer levar-me com ela

O relento é da onomatopeia dos sinos
O fumo da vastidão do desconhecido
Será aqui que as ruas se abandonam
Tudo parece conduzir ao instrumento 
Alambrado - Ai que obeso esmagado

Nesse momento poderias ser um cão 
A abraçar a chuva como quem some
E tu és um grito emergindo - entre
-tanto, abre-se o sol como uma flor
Extingue-se o sombroso e volta a;
Bendita para que connosco te deleites
    E inales 
                   A harmonia
A noite é uma dessas estrelas amigas que não esperamos que nos visite e onde caímos invariavelmente, e até lá há outro dia
Então isto é a antecâmara da cessação final!
E é aqui no quebra-luz que se deve ajoelhar?
Nascia sempre depois das uvas colhidas
Tinha um puro sangue e quando não tinha o gato emprestava a alma
Penetrava nos sonhos vindos de dentro ao ouvir a máquina da cidade anoitecida
Pode a cidade vergar um lírio no meio de campos de bancos esguios
Antes da eternidade?
Os ovos partem-se, os cães ladram em surdina
Os homens e as mulheres casam com as sombras
E nessas noites narcisos crescem entre as ervas
Ele é um lírio branco e branco continuará 
As noites frias fazem estátuas
E o lírio chora tanto quanto elas, não pode evitar a eternidade
Mas pode querer não entibiar
E este que se foi fazendo em tons de vermelho páscoa a páscoa 
De Açafrão-Da-Terra-Da-Índia
Aquele corpo ferido de morte numa cama de um quarto
De uma casa em pé algures sozinho
Que as noites geladas esquecem  
Todos os natais esquecido há de lembrar
Não é o rio que transcende
A língua a boca 
O movimento do afogado à foz da coxa 

Pois, nem a claridade do crepúsculo 
Do fogão corrompido pela vaidade
Aconchegante na demência de quem

O vento corre, o vento corre sobre trigo
Destruindo o que seria pão amanhã 
Aliás nada transcende numa vida sem
    Amor 

Golpeio a asa a galope e o coração 
Bombeia a pulso porque não há 
Curso de água que dê paz a Maria 
De passagem pelo mundo ouvia os desejos de glória e pensava:
Eu quero desaparecer e eles querem aparecer bravios
Deem-me uma flor de docilizar espinhosa comunicativa eterna 
Creio que me queriam incendiar
A morte tem tempo
E eu, só queria sentir-te paixão 
Era uma vez um comum que vivia para sobreviver, fora do tempo dentro do tempo sempre a correr, fazia a higiene, desde a pessoal à da do domicílio, comia bebia dormia, era um morto comum exemplar e um dia perdeu o coração 
Estás numa caixa da tarde
No princípio da noite
Estrelada, de estrelas frias predadoras 
Suficientemente longe
Num mundo que de humano tem apenas a morte
Tens a voz embargada
E num bolso um papel 
Pegas na caneca, na caneta, pintas e trocas 
O resultado por um bilhete para outro mundo 
Um recanto de algodão           Queres dormir 
     mas nem assim
Ainda sentes as unhas os dentes O silêncio 
      é frio noturno 
O cheiro das hienas com seus hábitos
Noturnas, o desprezo pela vida humana
Também tentei e não consegui
Nem contente nem descontente
Ao espelho: a apatia ainda dói 
Mas eu amo cada vez menos   A
vida parece meia noite e entre a máquina 
que se criou
E pedras e parte de uma peça triste
E coisas que acontecem porque
Sou um ignorante e amei sem pensar
E agora que a vida parece meia noite
Nem o copo me resgata, e, eu mereço 
Toda esta nostalgia severa existencial 
Averno: aut est aut non est; é -
E merecia mais, uma flor silvestre
Selvagem urbana violeta - tenho de pensar 
Que mereço sobreviver a esta meia noite
Mas onde terá ficado o amor
No dia dos fiéis       Não creio
que a esta hora ainda se encontre alguém no restaurante
Tenho de pensar, tenho mesmo de pensar
Estou cansado de macacos 
Sonhava com pulgas diferentes
Nunca quis uma muleta
E preciso da feiticeira tanto
Para não morrer em mar revolto
Quanto pelo mel dos favos
Do desenho para colorir

O porco salgado exige, o pássaro sugere
De mel as aves são todo o ano
Verões de São Martinho desafogados

Os porcos não têm limites e as bruxas
Têm os braços negros, as casas azuis 
São pedras no caminho das castanheiras
O que é que é claro, o que é que é escuro

Os campos secos gritam acima dos mundos
Preenchessem o vazio 
Olhando a docilidade da lã merino
A mais macia e fina 
Diria, as pulgas que sonhava eram gigantes
Porque estou parado   Entre
outras coisas porque
Fiquei parado na despedida
Porque estou parado num desinteresse:
Indiferença pela noite 
desapreço pelo dia   E é estranho
caminhar     Porque estou parado 
Parado    Resumidamente parado
No limite parado      Na escuridão 
da noite brilhante a voar como um cão 
A bater asas                Parado                   
Porque estou parado 
Porque estou parado 
A contas de vidro       Parado
O céu é negro e às vezes azul
Muitas vezes é vermelho
O céu transmuta o barco onde estou
Eu não reconheço imediatamente as cores
Encho o copo como se estivesse em guerra
Como se por momentos esquecesse
Que o chão não se perdeu
E o céu despe-se das nuvens
Fica amarelo integra
E a noite tem de esperar
É um caminho do chão para cima
No escuro que não é turvo
E é Ali de pé onde existe tal
Um elefante procurando a sua presa 
Na presença da sua luz
Na ausência de claridade, no obscuro
Que pode voltar
A olhar para a frente
O azul que decora este é tão acorde vermelho quanto a sombra do amarelo, e abre como alarme, como o eco da cotovia, e rasga como vento quando planetas se fecham toda a vida anoitecida. Basta crer no amanhã para querer acordar de novo. E porque faria uma folha de oliveira se é de carne! Pelos favos de mel. E pouco a pouco
Ele é um corpo inteiro 
Integrável num espírito 
De anseio fortalecendo a
Alma crescendo o pensamento
Protege as avenidas do coração
Consciente que não é o fato
De casamento, é assombro
Impedindo o sombrio de avançar
Não é animal, integra em paz 
A diferença e ela não se reduz
Não é a entrada, é a saída 
Da terra escura, liberta
Compreende e dá largas
À luz, aos sonhos da lua
Ele aquece, não cai do céu 
E demora-se em harmonia
Vais morrer sem cortar o cabelo 
E eu careca tenho saudade da fé 
Há quanto tempo
Perdido não sei piedoso, depois da sevícia de todos os lugares
Cortar o cabelo é de uma violência 
E fadiga pouco amiga de quem caminha e vê com bons olhos 
Eu careca não vejo pepitas de ouro
Certo que não vivo morto e podia viver morto se não tivesse cortado o cabelo
Também não tenho a certeza que estivesse vivo e podia estar vivo se não cortasse o cabelo
Vais morrer sem cortar o cabelo
Vamos morrer os dois, e se queres que te diga
Na verdade, eu não cortei o cabelo, ontem vias ontem
O cabelo caiu
Quanto mais chamas
Mais se foge do fogo
As flores amam o jardim
E o inseto do pólen 

Tu tinhas medo que 
Ela desaparecesse contigo
A tentar não te matares
Isolado a morrer a

A surdez é uma espada
E o que podias ter feito 
Sido se portas abrissem
Sei lá, lamentou-se a perda
E não se fala mais nisso 

Eu lembro as chamas o fogo 
O cego bombeiros dois gumes 
As portas a fechar a abrir
Não esqueço um dia
Solidão não é: estou sozinho
É uma tristeza profunda
Viver acompanhado no meio 

De tantas e tantas ausências 
E ninguém está perdido ninguém 
Foge se isola, aliás ninguém 

Ninguém existe até perceber que;
Estamos sozinhos, nasce-nos
E renasce-nos a imaginação mas

Tudo é um nado-morto até o animado
E quando morremos solenes ausentes 
De nós 

E morrer não é importante 
Mas depois o segundo passa 
O terceiro passa e o quarto
É como um acidente

Saudoso habituas-te à sobrevivência 
E pensas no primeiro, na dádiva que
Te deixou infeliz

Não direi ao abandono porque a beleza é algo que se afasta e tu gostas de ti
Sou o oposto, não posso ser o contrário 
Não sei representar 
Não consigo atingir o desnexo
A natureza não usa cobertura 
Parece um ato de autosabotagem
Será por honrar os mortos, talvez 
Um cheiro pretensionista vivo
Não o penso como parte das forças armadas
Especiais unidas
Não contemplo fogos de artifício 
Vejo-o como uma conjectura
Do que de fato pode acontecer
Na zona
Celeste
Só nós sabemos o íntimo das cores
A água branca e preta que nos deu à costa
O tanto de que nos cobrimos 
Assim como as despedidas que o nevoeiro subia
Entre a arte
E os foguetes não me lembro 
De dor medo culpa e sim
Da ânsia de uma pedra 
Hoje estamos sós, não sei se a noite é para ti 
Como para mim estio 
A lua gira, não desce cá abaixo
Sobe-me em dois fios de doçura 
E a fatalidade não traz escombros 
Enquanto a iluminação conquista o coração 
E em todo não sei quê de exaurir
Não há bocas coladas a pregos
Não há relógios Police ou Timberland 
Tardes de jazz e lícitas juras de amor
E mesmo que os dias sejam de ilusão 
São carinhos escritos com delicadeza
A desconstrução dos muros
A breve alegria de acordar
De adormecer e desejar como se à tarde
Pudessemos escolher
E seguem andorinhas por caminhos de giz alheadas
São comboios e comboios comboios e comboios 
Tenho encontrado por estas noites destes dias saudade e desesperança 
Degustando a incompletude da montanha em quarentena 
Canta-se bravas e mansas por um sonho
Amarelo, e amarelo, amarelo e amarelo 
Todas as montanhas são rebocáveis, enquanto isso vou
Chorando a alma morta entre a dúvida dos amantes 
Tomando consciência da precariedade do amor
E a certeza de que nada vai mudar
Inland beijou a fotografia da laje fria
Caríssima folha, beija-me
Desdobra-me como a borboleta 
De guarda faz ao navio dobrado
Porque este aqui
Não sou eu
O sol brilha como um arbusto alto 
Na paz dos excluídos,
Dos filhos bons e corajosos,
Estrangeiro por assim dizer,
Que se há de fazer, tudo é possível 
Quando o mundo é um riacho sem margens
Criado de alguma forma para esquecer -
No museu nacional da imprensa 
Há uma máquina muito antiga cuja utilidade
Serve para distrair,
E há um armário em madeira para tipos em chumbo,
E estes também brilham sob as luzes do museu,
Não se sabe muito bem para que servem,
Mas brilham diante as sombras,
Já o sol foi deixado a sós consigo,
A minha passagem por esta vida 
Não tem sido muito diferente de alguma coisa escondida
Sem barulho algum
Pois é meu caro tu que conquistas
Tu que escreveste o dia de ontem 
Tu que escreves e falas de sonhos
Tu que escreveste o dia de hoje
Tu que chegaste à Lua e a Marte
Tu que escreves o dia de amanhã 
A caminho de Vénus e de todo 
O universo, tu que escreves e assinas
A própria sentença não sabes ainda
Como travar a desumanidade
Pois é meu caro tu que conquistas 
Sabes, esta angústia mão querida nasce do que não vejo
Não é como o vento que se sabe onde nasce mão querida
É como sementes de pinhas caídas sem chão 
Enfim, o sempre só dá-me águas pelas barbas 
Não que um sol profundo não viva integrado
Aprendo com ele, à noitinha observo a lua
Os pássaros em movimento, do raiar do dia à noite
Com estes filhos da chuva e da terra
E a sombra, e a sombra, e a sombra
As aves dentro de portas esculpidas pelo tempo
E a sombra mão querida
Sabes, o inverno chegou aqui, morreu um passarinho 
Faz frio no sempre só e eu não sei se estou magoado
Esquecido do que é preciso para ir à rama e chegar ao mar
Quem tem o coração cheio vive bem sozinho 
A literatura é um lugar que se repete e deve ser revisitado sempre
A defesa é o momento especial do mentiroso tal como o ataque é o do culpado, o inocente confia que se apure a verdade, o pobre normalmente acaba lá dentro, violado e muitas vezes pendurado 
Os bons podem ser tristes mas têm uma vida mais sossegada 
Apressamos-nos para nos distinguir-mos do mal e calamo-nos quando o tempo deixa a nu a nossa pele. Colaborar compactuar com a maldade, seja por que motivo, ainda que ao longe, não faz de nós melhores que quem a pratica. Em todo o caso a diferença reside em denunciar o ato de maldade e afastarmos-nos de quem a pratica.
Quanto mais crescemos mais pequenos ficamos 
Os outros somos nós 
Esses somos nós 
Aqueles somos nós 
E os aéreos aquáticos 
Terrestres
E as árvores 
As flores...
O mundo somos nós nós 
Fizemos o ontem no passado 
E no presente estamos 
A fecundar o amanhã
E no futuro (Feliz Natal)
Estes somos nós 
Eles os outros 
Somos nós flor querida 
O vinho
O vinho 
Querida flor somos nós
A bélica indiferença da nossa desumanidade no mercado
Como navalhas e arame farpado voluntário
Tal o grande ladrão em máscaras de decência e amor
A uma comunidade avernal fabricando 
Em mim uma sem-vontade preferindo
O suicida e morrer numa ilusão de olhos doces
Ao aterro assassino, repugnante do mundo
Ter-te ainda que
Longe perto no
Coração e pensar 
Que o encanto 
Da tua presença 
Faz viver um dia
Mais amoroso 

Olha que já passei 
Alguns sinos 
Poucos anunciavam
O bouquet de rosas
Há tardes assim
Alma exangue
E tu flor rainha

Eu ressuscito através de ti
Fêmea magnificente
Saiu-me a sorte grande
O magma do sol
Do vulcão da lua
Anjo da guarda
Magnálio ígneo
Ankh
Maravilhosa, e tão bonita é
Assingelada, toda ela altiva
Majestade
Não olhes muito para o espelho senão cegas
Nunca consigo fugir
Superar ausências 
E vou atirando pedras à água
Se fosse porventura boa pessoa não sofria 
De solidão neste apartamento mobilado
Construído por máquinas e mão de obra 
De pobres mãos profissionais 
E lá está, se fosse boa pessoa não sentia
E jamais afastaria ao chamar
A escrever a solidão dos aparentemente 
A cova funda das fronteiras 
Das linhas ambíguas do mar 
E eu - nunca consigo fugir - e à noite
Sonho comigo e nunca tenho para onde ir
Vou atirando pedras à água e bebo vinho
Será da idade da pobreza do amor
Às vezes penso 
Quem quer comer um velhinho
Vou deixar a poesia
Vou deixar de comer
Beber respirar, sim
Vou deixar a poesia
Não sei se era isto que queria
Se é isto que eu quero
E o que queria mesmo, queria 
Vou deixar a poesia 
Conseguisse sentir 
Que gostasse do pássaro morto
Duma imensa escuridão, de poesia 
De qualquer coisa de pedra animal
E o que queria era não ser cheio de frio
Pedaços de limalha fronteiras 
Caído na terra maquinal
Palavras são somente palavras, mais que palavras é a palavra e eu estou sem palavras 
É cómodo estar no lugar do amado
O custoso é amar e se o pintor não 
Pintar, o amarelo acaba esquecido
Desamado e cuidado é necessário
Como saber
Pensar, para não matar, e morrer
Fácil é matar, amar é complicado
Mas é mais útil e prazeroso viver
E existir é como estimular a cor sem
Vergonha que
Faz bem à pele e dinamizar não é pecado
O meu amor voava
Que tudo o que não creio não me faça percorrer o caminho de ambulância para o hospital, e louco sou por acreditar no amor, e louco fico quando ela foge, e evitar a loucura não está disponível nos manuais da vida, a única a intenção do amor
Amar é não ter coração 
E ainda assim abrir
As janelas ao sol, ao alento
Todos, todos os dias

Amar é pulso e quebrar
O desejo da morte com vida
Um tento, e jamais sentar
Nas nuvens perdidamente 

O amor não mente e sim 
Amar é não ter coração 
E ainda assim, mesmo
Com frio levantar e florir

Amar é compreender 
Que às vezes o amor
Pesa mas o amor é querer
Bem e bem tratar trabalhar
Colorir, amar é... Bem, aja
Bem. Haja coração 
Eu ainda acredito 
Eu 
Ainda estou aqui